terça-feira, 22 de março de 2011

A má e a boa notícia: a criatividade do brasileiro


       Em momentos de crise, só a imaginação 
é mais importante que o conhecimento 
(Albert Einstein) 


Por Alvaro Nassaralla

Por ocasião do V Fórum Urbano Mundial¹, realizado em março de 2010 no Píer Mauá – RJ, tivemos acesso ao material desenvolvido pelo World Business Council Sustainable Development (WBCSD), intitulado “Adaptation: An issue brief for business” (Adaptação: Uma questão para os negócios) ². 

Nele, importantes aspectos foram levantados a respeito de 2 pontos urgentes e que devem ser trabalhados conjuntamente: a mitigação das emissões de gases de efeito de estufa e a adaptação.

De acordo com o relatório, “(...) deve-se dar o mesmo nível de importância tanto para a adaptação quanto para a mitigação. A adaptação não substitui a mitigação das emissões de gases de efeito de estufa. Pelo contrário, a adaptação e a mitigação precisam acontecer simultaneamente e de forma complementar”.

No documento, o WBCSD declara que, através de uma estratégia que combine a mitigação com a adaptação, pode-se reduzir a vulnerabilidade da população mundial da seguinte forma: 

“- A mitigação das mudanças climáticas pela redução das emissões não irá proteger comunidades dos efeitos das mudanças climáticas, mas irá, em uma escala global, reduzir o risco e a magnitude das mudanças climáticas no futuro.

- A adaptação não irá reduzir a freqüência ou magnitude com a qual eventos climáticos ocorrem, mas irão proteger os negócios e a sociedade contra eventos tais como secas, furacões e inundações”. 

Vulnerabilidade, adaptação e desastres naturais

No artigo Desastres naturais e prevenção, aqui no blog Política Sustentável Já, vimos o conceito de desastres naturais e vulnerabilidade. Agora não importa somente discutir se as mudanças climáticas são um efeito natural ou se são causadas pelos séculos de emissões de carbono na atmosfera.

O homem ocupou demais o planeta, expondo-se e aumentando a sua vulnerabilidade, e está sofrendo com as catástrofes naturais. É fundamental adotar políticas de prevenção para se minimizar os danos humanos e econômicos.

O IDS (Institute of Development Studies), um instituto que pesquisa países em desenvolvimento, lançou um estudo chamado Vulnerability, adaptation and climate disasters: a conceptual overview³ (Vulnerabilidade, adaptação e desastres naturais: uma visão conceitual). O relatório contém vários estudos de caso de países em desenvolvimento e traz basicamente as seguintes recomendações:
“• a mudança climática é uma ameaça séria e contínua para o desenvolvimento e irá adicionar encargos para os já pobres e vulneráveis;

 • a análise da vulnerabilidade do clima deve ser incorporada de forma sistemática dentro de três principais políticas e nas estruturas institucionais relevantes para a adaptação: o desenvolvimento, ajuda humanitária e as alterações climáticas.

• estes três domínios devem ser mais diretamente ligados em termos políticos e institucionais. Em termos políticos, eles devem compartilhar um objetivo primordial: a redução das vulnerabilidades relacionadas às mudanças climáticas.

 • vínculos institucionais e epistêmicos [o saber, o conhecimento] devem ser reforçados em torno do regime de mudanças climáticas, desempenhando o papel de um catalisador, o papel de ponte, com o objetivo de reorientar o desenvolvimento e ajuda humanitária para combater as causas estruturais das vulnerabilidades;

 • As comunidades devem ter um papel central na condução de análises de vulnerabilidade e o apoio institucional deve ser fornecido para apoiar as suas agências nos esforços de implementação para aumentar as suas capacidades para a adaptação”.

A boa notícia



As adaptações não podem ser vistas como um infortúnio e, sim, como geradoras de novas possibilidades, novos empreendimentos, o surgimento de novas profissões para promover e aplicar as adaptações.

O ser Humano vem se adaptando desde que as civilizações floresceram. É claro que o desafio que se impõe agora é o maior pelo que a humanidade já passou. Vamos ter de encará-lo e não ficar empurrando para debaixo do tapete.

Temos de cuidar para não cairmos no alarmismo. De outra forma, temos de promover uma rápida sensibilização da população, dos governos e dos empresários para a necessidade de estabelecermos políticas de adaptação.

Como vemos, temos muito trabalho. Só não podemos esperar as tragédias ocorrerem para começarmos a pensar e agir em termos de adaptação e mitigação das emissões.

A boa notícia é que o brasileiro é criativo por natureza. Podemos sair na frente!


Fontes e referências:

¹ V Fórum Urbano Mundial

Realização: ONU-Habitat e Governo do Brasil

http://wuf5.cidades.gov.br/pt-BR/Home.aspx


² Adaptation: An issue brief for business (Adaptação: Uma questão para os negócios)

Publicado por: World Business Council Sustainable Development (WBCSD) - 2008


³ Vulnerability, adaptation and climate disasters: a conceptual overview - Policy recommendations for climate change adaptation - IDS Bulletins - Vol 36 No 4

Autores: F. Yamin; A. Rahman; S. Huq

Publicado por: Climate Change and Disasters Group, Institute of Development Studies, Sussex, UK, 2005


terça-feira, 15 de março de 2011

Desastres naturais e prevenção - Parte 2


No post de ontem (abaixo deste), discutimos o que são desastres naturais e como a intervenção humano no ambiente pode causar e/ou agravar as situações. Ainda vimos além das inestimáveis perdas humanos, os prejuízos econômicos trazidos por esse tipo de evento.

Então, perguntamos: como criar mecanismos de prevenção ou minimização de danos?

Existem medidas preventivas de custo-benefício viáveis?

O que diz o livro-relatório Banco Mundial-Nações Unidas?

A prevenção se paga, segundo o livro Riscos naturais, desastres incidentais (BM/ONU). Ele cita o caso de Bangladesh, por exemplo, que se beneficiou dos avanços nas tecnologias de previsão do tempo, e implantou sistemas de alerta que avisam da possibilidade de ciclones. Com isso, reduziram-se drasticamente as mortes por ciclones, ano após ano.

Ainda, as conclusões publicadas sobre a relação custo-benefício de medidas preventivas incluem:

- maior acesso a informações relacionadas com desastres naturais e

- mudanças na política securitária, estimulando parcerias entre o setor privado e o setor governamental nos casos de grandes prejuízos causados por catástrofes naturais.

O livro também propõe soluções de custo-benefício extremamente positivo como a construção de infra-estrutura específica para os riscos: por exemplo, escolas construídas com a possibilidade de adaptação para abrigos e outras medidas que aumentem a eficiência do auxílio a população em momentos de grandes desastres.

Segundo o site Planeta Sustentável da editora Abril:

“(...) a Política Municipal de Mudança de Clima de São Paulo prevê não apenas medidas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, mas também atitudes para nos adaptarmos ao inevitável aquecimento da Terra que já começou, vai durar por muitas décadas ou mesmo séculos e vem afetando cada vez mais a vida das populações”.

Ainda, segundo o mesmo site, a coordenadora do GVces (Centro de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), Rachel Biderman diz que “para pensarmos em ações de adaptação às mudanças climáticas, precisamos conhecer a real vulnerabilidade de nossas cidades diante desse fenômeno. Mas, até agora, não temos nenhuma pesquisa ou inventário que trate do assunto”.

Em 2007, a revista e portal Scientific American publicou a reportagem “A ciência se move para provar as mudanças climáticas”, na qual dizia que já estavam sendo identificadas cientificamente as alterações prometidas no primeiro Intergovernamental Panel on Climate Charge (IPCC) em 1990. À época do primeiro relatório, não existiam provas reais que demonstrassem as mudanças climáticas.


Debate sistemático para levantamento de riscos mais prováveis e soluções
Mesmo os mais céticos não podem negar a simples observação da alteração nos eventos climáticos que estão ocorrendo.

Somente assim, poderemos alcançar uma perspectiva mais aproximada dos eventos futuros e traçar diretrizes mais eficientes. Afinal, se não discutirmos e tomarmos medidas preventivas em relação às mudanças climáticas no nosso estado, poderemos em breve nos deparar com situações de maior gravidade, tais como grandes perdas humanas, prejuízos econômicas e ambientais, e surgimento de epidemias, principalmente de veiculação hídrica (entre outras).

segunda-feira, 14 de março de 2011

Desastres naturais e prevenção


Segundo o Wikipedia, desastres naturais:
(...) são conseqüências de um risco natural (por exemplo, inundações, tornados, furacões, erupções vulcânicas, terremotos ou deslizamentos). Isso leva a perdas financeiras, ambientais e humanas. A perda resultante depende da vulnerabilidade da população afetada para resistir ao perigo, também chamada de resiliência.

[1] Essa compreensão está contida na formulação: 'desastres ocorrem quando os perigos se encontram com as vulnerabilidades'.

[2] Um perigo natural, portanto, nunca resulta em um desastre natural em áreas que não apresentam vulnerabilidade (por exemplo, fortes terremotos em regiões desabitadas).
Ainda, seguindo a linha de pensamento do Wikipedia, a região serrana do Estado do RJ sofreu com as duas situações expostas acima:

1. Riscos naturais: deslizamentos em áreas desabitadas (sem intervenção humana) da região serrana.

2. Desastres naturais: áreas de ocupação humana foram parcial ou totalmente destruídas por enxurradas e deslizamentos de encosta.

Os desastres naturais representam perdas patrimoniais, humanas e econômicas, e significam uma séria quebra da sustentabilidade e interrupção dos avanços econômicos e sociais.

Além das irreparáveis perdas humanas, o enorme número de feridos e desabrigados gera a necessidade de altas somas de dinheiro para a reconstrução e reabilitação das populações.

Segundo o livro publicado pelo Banco Mundial/Nações Unidas e intitulado Riscos naturais, desastres incidentais: A economia da prevenção efetiva” (Natural Hazards, Unnatural Disasters: The Economics of Effective Prevention*), desastres ambientais causaram 3,3 milhões de mortes e prejuízos financeiros de 2,3 bilhões (cotação do dólar de 2008) em danos entre 1970 e 2008.

Século 21, ciência e tecnologia

Vivemos uma época em que nossa sociedade pode utilizar toda a capacidade dos avanços científicos e tecnológicos para reduzir o número de tragédias humanas e perdas econômicas causadas por catástrofes naturais.

Contudo, devemos adotar uma abordagem integrada e multidisciplinar para a redução de desastres, trazendo nova ênfase à investigação, ao planejamento pré-desastres e sua aplicação eficiente.

O trabalho pela conscientização (visando à mudança de atitudes) traz resultados mais duradouros para a sociedade e o meio ambiente. No entanto, precisamos de políticas de prevenção e adaptação urgentes.

Cabe-nos enfatizar e discutir a importância da educação ambiental com referência aos desastres naturais e das medidas antecipatórias, como a implementação de sistemas de alerta em que as pessoas em situação de risco sejam avisadas a tempo, entendam o nível de gravidade do risco e saibam como agir de forma adequada.

No próximo post, veremos como a prevenção realmente se paga em termos financeiros.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Japão, o Estado do Rio e Mudanças Climáticas: estamos todos osb o mesmo guarda-chuva


As imagens do terremoto acompanhado de tsunami no Japão ocorridos nessa madrugada não deveriam mais nos chocar. Mas chocam.

As modificações dos eventos climáticos ocorridos no mundo como, também, no Brasil (os Estados de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são exemplos recentes), já vêm sendo esperadas pelos cientistas há algum tempo e têm como principal causa a produção exagerada dos gases de efeito estufa gerados por atividades humanas, características de nosso modelo de desenvolvimento civilizatório.

As chuvas recentes vivenciadas este ano na região serrana de nosso estado foram claramente mais intensas e de maior duração do que as de anos anteriores. As previsões dos especialistas no assunto apontam para a recorrência ou mesmo aumento de sua violência nos próximos anos.

Sendo assim, nosso estado, por suas características topográficas (maciços montanhosos) e de seus corpos hídricos (o mar, rios e lagoas) se torna cada vez mais vulnerável para catástrofes em decorrência das modificações do clima.

Além disso, nossos maciços montanhosos de certa altitude, com ângulos de declive acentuado e solos rasos e argilosos, são propícios para erosões do tipo laminar que causam deslizamentos mesmo em áreas de vegetação densa e sem indícios de desmatamento.

As construções em áreas de risco de populações tanto de alto quanto de baixo padrão financeiro devem ser reavaliadas e tomadas as medidas necessárias para evitar novas catástrofes, criando-se um planejamento baseado em evidências geotécnicas que envolvam:

- a remoção de moradias em área de risco,

- a regulação dos cursos de água,

- obras de contenção de encostas,

- a reavaliação das estruturas das represas e

- a fiscalização eficiente do cumprimento da legislação ambiental.

Vamos lutar para evitar que a sociedade local caia no pensamento escapista, adiando discussões e ações, para avançarmos enfim em um novo patamar de sustentabilidade em Nosso Estado.