terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mãos ao alto: a vida ou vaidade!?

Por Alvaro Nassaralla

Não há mais espaço para vaidades e individualismos. O homem moderno se vê diante de um muro muito alto, que terá de ser superado caso desejemos continuar no Planeta Terra enquanto espécie. Chegamos a um ponto onde não há mais espaço para retroceder. Temos de avançar e encarar o desafio. Adiá-lo será nosso fim.

Um dos maiores contrasensos de nosso tempo é o nível de expectativa de vida cada vez maior que atingimos (graças aos avanços da medicina), versus o que estamos fazendo com ambiente em que vivemos. O pensamento holístico diz que nós fazemos parte do ambiente e não o contrário!?

Viver o presente próximo de nós mesmos – e cada instante proporcionado pela vida – pode ser um passo para a solução. Quando nos afastarmos do egoísmo, da visão hipercapitalista, do “ganho eu-perde você”, poderemos reconstruir o mundo e as raízes da sustentabilidade.

Mas isso deve ser para já. Não temos tempo e, o pior, não somos donos de nada. Como dizem os índios, o homem branco divide a terra, põe cercas, toma posse do que é da natureza!

Acredito na tecnologia como saída para o impasse em que nos encontramos. Porém, não a tecnologia puramente voltada para o consumo, e, sim, a pesquisa científica voltada para a criação de novos padrões de consumo e sustentabilidade.


Revolução desindrustrial?

Vivemos hoje um sistema ampliado do que começou no século no século 18 (anos 1700): a Revolução industrial levada aos extremos de um consusmismo desenfreado, um capital volátil e cada vez mais concentrado nas mãos de uma elite mundial, entre outras ameaças a vida no planeta. Segundo o Wikipedia:

Então qual é a solução? E existe uma só?
“A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX.
Ao longo do processo (que de acordo com alguns autores se registra até aos nossos dias), a era da agricultura foi superada, a máquina foi superando o trabalho humano, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs, novas relações entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa (...).
Essa transformação foi possível devido a uma combinação de fatores, como o liberalismo econômico, a acumulação de capital e uma série de invenções, tais como o motor a vapor. O capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente”.
O autor John R. Ehrenfeld (*) pergunta:

“O que melhor personifica o desequilíbrio existente? Carbono na atmosfera e mudanças climáticas, insegurança global, redução dos suprimentos de água potável, miséria, solos condenados, comida não saudável ou centenas de milhões de agricultores retirados de seus locais em todo o mundo? Mas esse desequilíbrio é maior do que imaginamos. Ele mostra um profundo senso de alienação e ansiedade generalizada. Ele mostra o crescimento da cultura do medo e do descrédito – das grandes instituições, dos líderes políticos e empresariais, da mídia, de um pelo outro e, em última análise, da prórpia vida.”
O próprio conceito de sociedade sustentável talvez seja substituído por um sistema que ainda não conhecemos e não podemos, portanto, denominá-lo.

Mas o que temos agora é um grande e urgente desafio. Como diz o filme Home“estamos vivendo em tempos anormais" (exceptional times), tempos urgentes se consigo me aproximar da tradução correta.

A vida pede passagem a pobres e ricos, independentemente de raça, credo, opção sexual ou política: mas a vida depende de todas essas condições.

O orgulho e a soberba existentes em graus diferentes em cada um de nós e, também, tão valorizados em uma sociedade hiper-capitalista, podem representar entraves graves para a nossa sobrevivência e evolução no planeta Terra.

Antes de quaisquer soluções tecnológicas, temos de ter uma radical mudança de paradigmas, com menos vaidades e individualismos. E se vaidade está diretamente relacionada ao ego, o ser humano chegou a um ponto de sua história em que, definitivamente, não tem nada do que se vangloriar.


(*) John R. Ehrenfeld - "Sustainability by Design: A Subversive Strategy for Transforming Our Consumer Culture" - Yale University Press (2009)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ligar a ciência ao homem comum e o homem comum à ciência


* Apresentamos abaixo um resumo da matéria “Por uma expansão global do conhecimento”, de José Monserrat Filho, publicada na revista ECO21 (fev/2009).

Resumo

Muitos acreditam que o conhecimento é a chave para a solução de muitos dos desafios que a humanidade já está tendo de lidar em relação ao aquecimento global e a redução da pobreza no mundo.

Acreditando nisso, a União Européia publicou em 2009 os resultados de uma pesquisa da percepção pública quanto à ciência e a pesquisa científica.

Uma grande conclusão foi alcançada: a população acredita na ciência como um caminho para o progresso e há um consenso de que o continente tem de investir de uma forma planejada na pesquisa científica.

Os europeus reagiram de modo positivo:

- aos avanços nas áreas médica e farmacêutica,
- à procura de solução para os problemas energéticos, ambientais e climáticos,
- criação, inovação e aperfeiçoamento de produtos capazes de facilitar as tarefas cotidianas.

Eles reagiram de modo preocupado com pesquisas científicas e experiências:

- com animas,
- sobre células-tronco,
- sobre biocombustíveis.

Ainda, como preocupações sérias, apareceram:

- o risco das manipulações genéticas, dos organismos geneticamente modificados (OGM),
- as ameaças à saúde
- as mudanças climáticas e
- o uso da ciência para fins bélicos, as armas de destruição em massa (principalmente as nucleares e químicas).

Outro item em que a pesquisa encontrou resultados positivos é a necessidade de maior divulgação científica. É fundamental integrar a pesquisa científica com a população, ampliando o acesso às informações, assim como aperfeiçoar os mecanismos de coordenação e difusão de informações.

O conhecimento de nosso tempo está ainda calcado em especificidades, e o desafio é alcançar a multidisciplinaridade na produção de conhecimentos, relacionando e interligando as “áreas” do conhecimento.

A revista chama a atenção para o texto “Por um saber sem fronteiras”, de Sérgio Paulo Rouanet, filósofo e ex-diplomata: 
“É preciso que haja uma inflexão, a passagem para uma etapa em que o homem volte a ser sujeito do processo de geração e aplicação do conhecimento. A mutação que pretendemos deverá devolver ao homem a capacidade de ter uma visão de conjunta das atividades técnico-científicas, sem o que a democracia seria substituída pela logocracia”.
Nós, da Pensamento Ecológico, acreditamos que devemos lutar para que o conhecimento não obtenha o status de poder sobre as necessidades humanas, tornando-se uma ditadura do conhecimento. Por isso, atentamos para o risco de que as pesquisas científicas sejam dirigidas a interesses puramente econômicos.

Para concluir, reproduzimos a citação de Rouanet contida no texto da Eco 21: 
“A própria sobrevivência da democracia depende da capacidade dos cidadãos de reassumir algum controle sobre os rumos da ciência, pois de outro modo haveria o risco de que uma ciência cada vez mais esotérica e menos inteligível para o homem comum, cada vez mais comprometida com o complexo industrial-militar, cada vez menos sensível aos riscos ecológicos que pesam sobre o Planeta, usurpasse o poder decisório que numa sociedade democrática só pode ser exercida pelo povo soberano”.
Link para o texto original de "Por uma expansão global do conhecimento científico"http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=1924