Por José Augusto Silveira
09-out-12
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"Transhumanidade"
José Augusto Silveira |
Os resultados das eleições na cidade do Rio de Janeiro em 2012 demonstram
um sistema político-eleitoral falho em termos de uma comunicação equitativa
entre os seus participantes, como também uma sociedade dividida em dois
segmentos. Por um lado, a sua maioria toma uma postura conservadora, levando em
conta apenas a gestão eficiente, sem grandes preocupações com questões éticas.
Por outro lado, um segmento menor, em que se deseja bons resultados de gestão, acompanhados
sempre por um posicionamento ético nas questões políticas.
Eduardo Paes estruturou sua campanha coligado com 19 Partidos Políticos,
tendo amplo financiamento e tempo de televisão, alcançando aproximadamente 64% dos
votos válidos, e Freixo, sem coligação, com finaciamento e tempo de televisão
reduzidos, conseguiu um percentual de 28%.
Um outro fato importante, foi a atenção dos eleitores em relação a polarização
entre os candidatos Paes e Freixo, tornando quase que totalmente nula a
visibilidade dos outros candidatos de oposição.
Isso nos motiva a refletir de uma maneira crítica sobre esse processo
para assim podermos entender quais as modificações de nossa sociedade que contribuíram
na produção desse cenário.
Analisando inicialmente a grande quantidade de partidos coligados na campanha
do candidato Eduardo Paes, já temos a nítida impressão de que tais partidos não
possam representar, de forma alguma, diferentes propostas políticas para o planejamento
e gestão da cidade. Vemos, assim, uma necessidade urgente de modificação no nosso
sistema político-eleitoral.
Outro aspecto importante é a desproporção dos recursos financeiros entre
os candidatos, resultando em estruturas de campanha com capacidades muito
diferenciadas em alcançar o eleitor e conseguir uma comunicação eficiente de
suas propostas de mandato.
A capacidade maior de repetição de imagens, bem como de falas, de um
candidato em relação ao outro pode acabar sendo um fator decisivo na assimilação
das propostas.
Também, o tempo desproporcional de exposição na mídia televisiva, mesmo com
o avanço dos recursos de comunição via internet, como redes sociais, blogs e
outros, ainda pode ter uma importância enorme na decisão de votos dos
eleitores.
Além desses fatores relacionados acima, temos que considerar ainda as
características atuais da sociedade, tais como a despolitização crescente da
população, o aumento acelerado do hiperindividualismo e o avanço do consumismo
em detrimento da cidadania.
Essas características de nossa sociedade atual levam a posturas quase
sempre hiperpragmáticas: o que se quer é apenas ver os resultados práticos,
materiais, não nos importando os meios para alcançá-los. Os aspectos éticos não
são levados tanto em consideração. Na verdade, de uma maneira simplificada, a
sociedade demanda unicamente uma espécie de síndico para conduzir a gestão da cidade.
O cidadão, hoje predominantemente consumidor, até mesmo no período eleitoral
(e pior, ainda pode ser vítima de estratégias de marketing eleitoral enganoso),
não quer mais de maneira alguma estar envolvido nas questões de responsabilidade
cidadã e democrática, como a fiscalização dos seus representantes, tanto do
legislativo quanto do executivo, ou mesmo uma participação mais ativa no
planejamento e vida comunitária de seu bairro.
Acredito que são essas circunstâncias que nos levaram a eleger com
aproximadamente 64% uma candidatura a meu ver conservadora, porém,
técnico-modernizante, e menos de 30% dos votos dirigidos ao candidato opositor,
preocupado com a ênfase na ética e na corrupção na política, dando como exemplos
a erradicação da atividade miliciana como questão importante de estado e o
julgamento do então chamado ‘Mensalão”.
Importante ressaltar que embora os seguimentos da faixa etária
intermediária e avançada da sociedade se mostrem indiferentes a essas questões,
por outro lado, a faixa dos novos jovens (aproximadamente entre 18 e 25 anos)
demanda uma postura considerada pelas suas gerações anteriores como até cafona:
a boa notícia é que esses jovens estão reintroduzindo a necessidade de falas
mais emocionais porém propositivas na política, e mesmo com componentes mais ideológicos,
e a ênfase na questão da ética, vivenciadas há décadas atrás.